Como o caso do senador Roger Pinto expôs
a crise entre Dilma e o Itamaraty
a crise entre Dilma e o Itamaraty
No início de agosto de 2013, Marcel Biato, o embaixador do Brasil em La Paz, convocou seus dois auxiliares mais graduados, Eduardo Saboia e Manuel Montenegro, e os três adidos militares. Pediu-lhes que considerassem algumas estratégias para retirar da embaixada o senador Roger Pinto Molina em situação de emergência médica. O político, dirigente da direita local, desafeto do presidente Evo Morales, estava instalado havia quase quinze meses numa sala da missão, que ocupa os primeiros dois andares de um prédio comercial da capital boliviana. Seu pedido de asilo diplomático havia sido aceito pela presidente Dilma Rousseff, mas o governo da Bolívia se negava a conceder o salvo-conduto para que ele pudesse sair do país.
Na época, não podia ser pior o clima entre o comando da embaixada e a cúpula do Itamaraty. Os dois lados se engalfinhavam em torno da situação de Roger Pinto desde que, cinco meses antes, Biato fora alijado das negociações com o governo boliviano sobre o destino do senador opositor. A embaixada relatava que o hóspede estava apático, descuidado com a aparência, e tinha deixado de se exercitar com os pesos e a bicicleta ergométrica postos à sua disposição.
Os diplomatas e os militares discutiram três cenários. O primeiro era proporcionar mais conforto ao senador transferindo-o para a “casa dos fuzileiros” – uma construção nos fundos da residência do embaixador que os fuzileiros navais responsáveis pela segurança da missão usam para fazer churrascos, trocar de roupa e tirar um cochilo. A segunda possibilidade era levar Roger Pinto para um hospital da cidade, correndo o risco de que ele não pudesse voltar à embaixada. Por fim, foi considerada sua vinda para o Brasil pela rota que liga La Paz a Corumbá, em Mato Grosso do Sul, um percurso de 1 550 quilômetros. As alternativas foram expostas ao Itamaraty, que não fez comentários (...)
Enquanto as negociações secretas patinavam, mais um personagem entrou em cena. Em abril de 2013, o advogado Fernando Tibúrcio Peña foi procurado pelo documentarista baiano Dado Galvão, diretor de Conexão Cuba–Honduras, cuja personagem principal é a blogueira cubana Yoani Sánchez. Galvão tentava entrevistar Roger Pinto na embaixada em La Paz para seu novo filme, Missão Bolívia, e não foi autorizado pelo Itamaraty. Queria a ajuda de Tibúrcio para conseguir a permissão na Justiça.